A história dos vinhos de Bordeaux sempre esteve ligada aos comerciantes do norte da Europa. Irlandeses, ingleses e holandeses fizeram e ainda fazem parte da glória conquistada pelos vinhos da região. O caso de Barton & Guestier não é diferente e a empresa, que está próxima de completar 300 anos de vida, teve sua fundação no ano de 1725, pelo irlandês Thomas Barton. A TodoVino, loja online de vinhos, cervejas e destilados, mais uma vez, compartilha informações sobre marcas famosas.
Na época a Irlanda era um dos maiores compradores dos vinhos de Bordeaux e a visão empreendedora de Thomas Barton o levou ao Médoc. Em 1747, sua empresa se tornou a maior exportadora de vinhos de toda Bordeaux. Vale lembrar que até início do século XX, os vinhos eram comercializados nas barricas. O conceito de engarrafamento na propriedade surgiu apenas entre o final da década de 1910 e início de 1920.
A função de Thomas Barton é conhecida como negociante, pois visitava os produtores, provava seus vinhos e os selecionava, segundo seu critério pessoal. Aos irlandeses era associado o especial talento em fazer os blends dos vinhos de Bordeaux, conseguindo dar alguma consistência ano após ano e os valorizando particularmente no mercado britânico. Estes, por sua vez, eram grandes compradores e bebedores dos vinhos de Bordeaux, costume que não surgiu ao acaso. Por longos séculos, toda a faixa oeste do território francês era conhecida como Aquitânia e esteve sob domínio inglês até 1475, quando a área onde está Bordeaux foi devolvida à França, após a Guerra dos Cem Anos. Os holandeses além de bons consumidores, foram os grandes arquitetos de Bordeaux e muitas áreas então pantanosas se transformaram em nobres e caros vinhedos, graças aos canais de drenagem implantados por eles.
A sociedade da família irlandesa Barton com a francesa Guestier surgiu por uma quase trágica situação. Daniel Guestier, cujo avô tinha sido membro do comitê naval da realeza francesa, se tornou grande exportador de vinhos de Bordeaux para as colônias britânicas na América e se tornou conhecido por ser o fornecedor de vinhos de Bordeaux para o então presidente (e enófilo) Thomas Jefferson. O lastro de Guestier também vinha de seu pai, que simplesmente gerenciou dois dos châteaux mais relevantes do Médoc: Lafite e Latour. Durante a Revolução Francesa, Hugh Barton, neto de Thomas Barton, estava à cargo da empresa e foi preso pelas tropas francesas acusado de traição. A sentença: pena de morte pela guilhotina. Foi sua esposa, Anna, que o salvou ao emprestar um vestido e Hugh conseguiu sair da prisão disfarçadamente, antes da punição, e retornar para a Irlanda. Durante os sete anos de exílio em sua terra natal, Hugh Barton recorreu ao amigo Daniel Guestier para administrar a empresa. O acordo foi selado num simples aperto de mãos. As duas famílias seguiram com a próspera sociedade até 1950, quando o grupo Seagram se tornou acionista da empresa. Barton & Guestier cresceu, expandiu sua área de produção além das fronteiras de Bordeaux e os mercados destino de seus vinhos também se ampliou, chegando hoje a mais de 130 países.
Desde 2010 Barton & Guestier pertence ao Grupo Castel Frères, a maior empresa vinícola da França, e atua em 23 denominações de origem diferentes na França, com destaque para as diferentes comunas de Bordeaux, além do Languedoc e Rhône. No total, cultivam 20 variedades viníferas e trabalham com cerca de 200 vitivinicultores associados. A grande estrela do grupo hoje é o Château Magnol, um Cru Bourgeois desde 1987, com 30 hectares de vinhas (48% Merlot, 40% Cabernet Sauvignon e 12% Cabernet Franc) com idade média de 22 anos, localizados no Haut-Médoc.